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ALÉM DO PALCO, ANTES DO BACKSTAGE

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O mundo é maior do que um palco. Embora a experiência profissional do fotógrafo Victor Balde tenha se favorecido da vitalidade esbanjada pela cena musical sergipana, a narrativa tecida pelo seu olhar não restou viciada aos berros e caretas do underground. O conjunto do trabalho reunido no site victorbalde.com , que acaba de ganhar nova identidade visual, testemunha a pretensão de alinhavar imagens a partir de um ponto de vista pessoal, ancorado em seu próprio tempo.

De acordo com uma metáfora surrada, estão mortos os homens engessados pelo hábito. Não é o caso tratado agora. Além da consagrada parceria firmada com Arthur Soares sob a marca da Snapic, Balde também se dedica a um exercício de interpretação do entorno que, no fim das contas, não passa de uma peleja contra a velocidade dos dias. As coisas estão se tornando cada vez mais efêmeras.

Nos ponteiros dos relógios, velhos e moços pendurados, cada um a sua maneira.
Por isso o ensaio Sobre ansiedade e paciência, no qual Balde registrou a maneira como os participantes de um encontro folclórico se comportavam enquanto aguardavam o momento de reivindicar a atenção do público. Antes de qualquer preocupação, contudo, está o humano, personagens de carne e osso sem o qual não haveria sentido em nenhuma história, como o próprio fotógrafo me explicou, quando eu trabalhei na divulgação do projeto Êxodo, exposição que reuniu a fotografia à xilogravura, fruto de uma parceria com a artista visual Gabi Etinger.

Desde a minha primeira experiência, quando visitei um acampamento do MST em Malhador, a fotografia surgiu com duas características muito fortes: a proximidade com as pessoas e a exploração de lugares novos. Não fosse a fotografia, eu nunca teria sentado numa roda de amigos do movimento Sem Terra pra jogar conversa fora. Aprendi a ouvir mais, me encantei com histórias de vida. Êxodo me deu a chance de pegar a estrada, novamente.

Nem todo dia é dia de rock. É sempre tempo, no entanto, de tomar as rédeas da vida e esticar o olhar além da realidade aparente. Os trabalhos de Balde me dizem.

 

Rian Santos é jornalista   //   Foto por Arthur Soares